“Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passar
adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. E,
despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a
tarde, lá estava ele, só. Entretanto, o barco já estava longe, a muitos
estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. Na
quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o mar.”
(Mateus 14.22-25)
Enfrentar as grandes tribulações
da vida nunca é fácil, até mesmo para pessoas mais experimentadas. Quando se
esgotam todas as forças interiores, resta somente esperar por socorro externo.
Com o passar do tempo de aflição aumenta a incerteza, e a insegurança vai
tomando conta da pouca fé que ainda podemos ter. A passagem bíblica de hoje
mostra que em muitas situações é o próprio Deus quem nos coloca no meio da
tempestade. Surge então a pergunta: mas qual é, afinal, o divino propósito
nisso?
Aprofundando um pouco o estudo desse
texto, percebemos que o principal fruto das tribulações é o restabelecimento da
nossa visão espiritual. Nos momentos que antecedem a decisão de Jesus, quando “compeliu”
seus discípulos a embarcar e seguir em outra direção, percebemos que esses
estavam equivocados ao concordar com a multidão em proclamar Jesus como Rei de
Israel. O verbo grego utilizado no texto original – προαγω (PROAGO) – traduz o ato de tirar alguém de um lugar onde
tinha a sua visão ocultada.
No evangelho de João vemos nessa
mesma passagem que, depois da multiplicação do pão, a multidão eufórica queria
proclamar Jesus como Rei dos Judeus: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir
com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente,
sozinho, para o monte” (João 6.15). Em lugar de ajudar o Mestre a
dissuadir o povo, seus discípulos estavam mais dispostos a fazer prevalecer os
seus próprios desejos. Jesus então os obriga a embarcar e se fazer ao mar, para
enfrentar uma terrível tempestade.
Vemos, ao final, que o propósito
de Deus foi plenamente cumprido. Os discípulos aprenderam que as aflições e
perplexidades surgem na vida quando, a partir de motivos egoístas e tolos, nos
opomos à vontade de Cristo Jesus. Eles entenderam, afinal, que agir
contrariamente à sua vontade, em qualquer tempo e situação, logo se transforma
em uma grande angústia. Foi nesse momento desesperador que eles puderam experimentar
o divino benefício do cuidado de Deus, em nos fazer passar por TEMPESTADES DO
BEM.
Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAÚJO