segunda-feira, 25 de junho de 2012

CADA COISA NO SEU DEVIDO TEMPO

“Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.
Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas.”
(Lucas 10.39-41)

No mundo agitado de hoje precisamos pensar no valor relativo daquilo que realizamos. A questão não é se estamos engajados ou não em alguma atividade, mas se o que fazemos é, de fato, o mais importante naquele momento, dentro de uma escala de prioridades. Na passagem supracitada vemos duas pessoas ocupadas com diferentes atividades, mas ambas fazendo algo que deveria estar sendo feito. Vamos nos concentrar no valor relativo entre as atividades das duas irmãs, sem considerar a questão do ativismo ou passividade de cada uma delas. Esse, por certo, não era o foco de Jesus. Aliás, qualquer das atividades descritas, quando desenvolvida com empenho extremado, pode ser muito prejudicial.

De um lado, existem aquelas pessoas que não param nunca, estando sempre envolvidas com várias atividades ao mesmo tempo. Essa característica de personalidade muitas vezes está relacionada com alguma carência emocional. Na verdade, a hiperatividade pode acontecer como forma de fuga aos sofrimentos do cotidiano, ou mesmo por insegurança pessoal em enfrentar uma determinada situação. Pelo ativismo, alguns buscam um estilo de vida sem profundidade, que exigem tempo, dedicação e cultivo permanente.

Por outro lado, existem aquelas pessoas totalmente desinteressadas, cujas vidas não têm nenhum sentido ou propósito. Essas geralmente levam a vida à custa do próximo, como formigas andando sobre as folhas das outras. Sobrecarregam aqueles que lutam para prover o seu sustento. São pessoas que almejam uma boa vida, mas não querem trabalhar para isso. Quando vêem os outros trabalhando, geralmente não se envolvem, ficam só esperando o momento de desfrutar do esforço alheio. Assim, podemos concluir que tanto o ativismo quanto a passividade são extremos prejudiciais, cada um do seu modo.

Mas, enfim, qual o ensinamento de Jesus nessa passagem? Ele não condenou o esforço de Marta em arrumar a casa, pois é uma atividade louvável e necessária; o problema é fazer na hora errada, e esse é o “x” da questão. Até o que é importante e necessário deve ser feito na hora certa. Era tempo de aprender com Jesus e fortalecer a fé, pois ainda não sabiam, mas iriam passar momentos difíceis com a morte do irmão, e precisavam estar fortalecidas. Observe a diferença de postura entre as irmãs: Marta, quando soube que vinha Jesus, saiu ao seu encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão” (João 11.20-21). Marta estava aflita, enquanto Maria permanecia tranquila. Quando fazemos CADA COISA NO SEU DEVIDO TEMPO, a vida se torna muito mais produtiva, sem desviar o foco do que deve ser feito em cada momento.

Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAÚJO

domingo, 17 de junho de 2012

OFERTAR O QUE NOS CUSTA


“Porém o rei disse a Araúna: Não, mas eu to comprarei pelo devido preço, porque não oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos que não me custem nada. Assim, Davi comprou a eira e pelos bois pagou cinqüenta siclos de prata.”
(2 Samuel 24.24)

O Senhor instruiu Davi, conforme a palavra do profeta Gade, a subir à eira de Araúna, o jebuseu, e oferecer sacrifício para cessar a praga que caíra sobre Israel, por causa do censo do povo. Ao chegar à casa de Araúna Davi foi recebido cordialmente, sendo-lhe oferecido tudo aquilo de que precisaria para fazer o sacrifício a Deus: “Então, disse Araúna a Davi: Tome e ofereça o rei, meu senhor, o que bem lhe parecer; eis aí os bois para o holocausto, e os trilhos, e a apeiragem dos bois para a lenha. Tudo isto, ó rei, Araúna oferece ao rei; e ajuntou: Que o Senhor, teu Deus, te seja propício” (2 Samuel 24.22-23). Davi, porém, recusou a oferta, que lhe seria gratuita, com um sonoro não. Essa postura, adotada por Davi, deve ser compreendida por nós levando-se em conta dois princípios muito importantes.

Primeiro: por ser rei, Davi poderia exigir tudo o que bem entendesse. Além disso, poder servir ao rei seria um privilégio, que Araúna aproveitou disponibilizando tudo do que dispunha. No entanto, Davi não aceitou a oferta gratuitamente, pois entendeu que não deveria usar da sua autoridade para abusar do povo. Como integrantes do reino de Deus, devemos ter isso sempre em nossas mentes: nunca explorar o próximo, tirando proveito de uma posição de força que eventualmente possamos ter.

Em segundo lugar, Davi também não aceitou gratuitamente o que Araúna lhe ofereceu, porque entendeu que para o sacrifício ter valor espiritual precisa custar algo ao ofertante. Este princípio é fundamental, porque muitas vezes não é o que nos custa, mas o que nos sobra que entregamos ao Senhor. Ofertar o que nos sobra obviamente não nos acarreta pesar. Vemos claro esse princípio na instrução de Jesus aos seus seguidores, em uma ocasião, quando Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos.   Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía todo o seu sustento” (Lucas 21.2-4).

Ao estudarmos a Palavra de Deus vemos que todo sacrifício requer um valor a ser ofertado. Constatamos que o preço para redimir os pecados do mundo foi pago com a vida do próprio Filho de Deus. Esse preço foi muito alto, pois o problema a ser resolvido tinha dimensão imensurável ao homem. Assim, devemos sempre OFERTAR O QUE NOS CUSTA, com o mesmo sacrifício e devoção de Cristo, o que requer desapego total às coisas materiais. Somente desse modo é que poderemos experimentar o fruto especial de uma vida totalmente entregue ao Senhor. Davi atendeu a essa premissa sacrificando algo que lhe custou, não sendo gratuita a sua oferta para Deus.

Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAÚJO

domingo, 10 de junho de 2012

CHAMADOS A BRILHAR


“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.”
(Mateus 5.16)

Há dois grandes prejuízos quando entendemos de forma equivocada a questão relacionada à prática das boas obras. Primeiro, se achamos que dependemos delas para a salvação; segundo, se não as praticamos, como fruto da salvação dada por graça de Deus. Sem querer aprofundar mais a questão, nessa breve mensagem pastoral, basta pensarmos inicialmente que aquilo que fazemos, ou deixamos de fazer, revela muito do que realmente somos. Uma proposição de Francisco de Assis, evangelista italiano do século XIII – quando diz que devemos pregar o evangelho todo o tempo, se necessário usando palavras – bem ilustra o ponto que pretendemos salientar essa semana.

Antes de qualquer conclusão mais precipitada sobre a sensível temática apresentada, salientamos que, muitas vezes, é fato que o testemunho de uma pessoa convertida repousa unicamente na sua proclamação verbal, dizendo aceitar a Cristo como seu Senhor e Salvador. No entanto, logo é possível identificar, por meio de atos contraditórios ao seu testemunho, que o seu voto não passa de uma afirmação vazia, até mesmo mecânica, ou meramente formal, de conversão ao cristianismo.

No sermão do monte (texto em referência) os discípulos de Jesus são CHAMADOS A BRILHAR: “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5.14). O Senhor evidencia assim, de forma clara, a necessária identidade com o caráter cristão, não apenas pela verbalização, mas também por atitudes práticas. Não significa que obras, por si só, venham a gerar luz, mas sim que, pela boa prática, reflitam a manifestação da luz em uma vida cristã. Noutras palavras: ser a luz do mundo não requer ações especiais para sua identificação. É a destinação de caráter, e não as obras, que de fato testemunham a divina origem da luz. A ordenança de Jesus é para que, mesmo sem usar a palavra, sejam reconhecidas a graça e a glória de Deus em nossas ações.

Infelizmente, muitas vezes temendo condicionar de forma equivocada a salvação, alguns erroneamente excluem por completo as boas obras da sua prática cristã. Claro está que ninguém vai ganhar o céu pelo que faz na terra. Porém, não podemos desconsiderar o que também diz a Palavra de Deus nos textos abaixo, especialmente sobre a questão das obras:
- “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10);
- “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tito 2.7);
- “o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.14);
- “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hebreus 10.24);
- “mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1 Pedro 2.12).

Que Deus nos ajude a bem discernir, com sabedoria, a essência da nossa nobre missão.

Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAÚJO

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O TEMPO DE PASSAR O BASTÃO


“Porém Abisai, filho de Zeruia, socorreu-o, feriu o filisteu e o matou; então, os homens de Davi lhe juraram, dizendo: Nunca mais sairás conosco à peleja, para que não apagues a lâmpada de Israel”.
(2 Samuel 21.17)

O combate difícil e prolongado pode nos deixar muito cansados. Assim, os mesmos desafios que enfrentamos no passado, com garra e força, podem ser mortais quando já não temos a mesma disposição inicial. No momento certo, tendo consciência das nossas limitações, devemos dar lugar aos que estiverem em melhores condições de tocar adiante o trabalho. O tempo passa e cada vez mais a nossa energia já não é a mesma de anos atrás. Por isso, a esperança da igreja está na juventude do presente. Cabe a nós preparar os jovens para continuar a fazer a obra no futuro, quando já não tivermos mais forças para tal.

O trecho da Palavra em epígrafe nos remete a outra passagem bíblica, ao tempo em que Davi, no vigor da sua juventude, enfrentou o gigante Golias, derrotando-o apenas com uma funda. Davi era então apenas um rapaz bastante corajoso e, por seu intermédio, o Senhor permitiu realizar essa façanha, que ficou gravada para sempre nos anais da história do povo de Israel. Aquele episódio foi apenas o início das muitas vitórias conquistadas pelo escolhido de Deus, ungido por Ele como “homem segundo o meu coração” (Atos 13.22).

Mas o tempo passou e percebemos agora que Davi já não é mais o mesmo de antes. Embora com a mesma coragem, que o caracterizou por toda a vida, ele já não tem igual vigor: “De novo, fizeram os filisteus guerra contra Israel. Desceu Davi com os seus homens, e pelejaram contra os filisteus, ficando Davi mui fatigado” (2 Samuel 21.15). O desafio foi similar: “Isbi-Benobe descendia dos gigantes; o peso do bronze de sua lança era de trezentos siclos, e estava cingido de uma armadura nova; este intentou matar a Davi” (2 Samuel 21.16); mas o resultado foi que esse novo gigante quase tira a sua vida, o que só não foi consumado por interferência de um dos seus homens, evitando uma grande tragédia.

O texto nos ensina que enfrentar novos inimigos, quando já estamos fatigados dos combates da vida, pode ser um grande perigo. Por isso, antes devemos contar com ajuda competente, para depois não vir a ser tarde demais. O desafio é formar a geração que levará a obra de Deus adiante, pois chegará o dia em que já não teremos a mesma energia. É certo que a coragem poderá nos acompanhar sempre, mas nem só de coragem provêm as vitórias na vida. Uma igreja com visão de futuro precisa investir na juventude cristã e, por seu turno, os jovens da igreja precisam ter consciência da sua nobre missão como herdeiros da obra.

Davi poderia muito bem ter ficado ofendido com o socorro e, posteriormente, com a sugestão de seus homens para evitar outras pelejas. Porém, muito ao contrário, ele sabiamente acatou as limitações impostas pelo tempo, aceitando com simplicidade o assessoramento para não mais expor Israel a riscos. Todos nós devemos ter a mesma humildade em reconhecer quando for chegado O TEMPO DE PASSAR O BASTÃO, aceitando naturalmente a hora de ceder caminho quando já não tivermos mais plenas condições para continuar a liderar o bom combate.

Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAÚJO