“Então, sacrificarás como oferta de Páscoa ao SENHOR,
teu Deus, do rebanho e do gado, no lugar que o SENHOR escolher para ali fazer
habitar o seu nome.
Nela, não comerás levedado; sete dias, nela,
comerás pães asmos, pão de aflição (porquanto, apressadamente, saíste da terra
do Egito), para que te lembres, todos os dias da tua vida, do dia em que saíste
da terra do Egito.”
(Deuteronômio 16.2-3)
Na medida em que os anos passam, experiências
boas e negativas se somam à história de nossa existência. A maioria das pessoas,
se pudesse, guardaria apenas as suas boas lembranças, esquecendo-se
completamente daquelas que não lhe são nada agradáveis. Por certo, todos jogariam
fora tudo o que possa lembrar os momentos mais difíceis. O texto de hoje nos
leva a meditar em outra dimensão, mostrando que o próprio Deus não tem interesse
em apagar da nossa memória as lembranças amargas da vida. Ao contrário, o
SENHOR utiliza-se dessas lembranças ruins como elementos importantes para o
nosso crescimento espiritual. No intuito de marcar na alma os tempos difíceis
que o seu povo passou no Egito, Deus institui a Páscoa, a fim de jamais esquecerem
a sua Graça, passando isso a ser uma tradição por todos os demais dias das suas
vidas.
O povo de Deus deveria manter sempre na
lembrança a sua condição anterior à libertação do Egito: agora eram livres, mas
antes foram escravos. Essa mudança extraordinária não foi conquistada por
mérito próprio, mas sim dada graciosamente por Deus. Não fosse a bondade de
Deus, que ouviu seus clamores, jamais teriam saído da escravidão. É certo que não
mais teriam a estrutura que uma cidade organizada dispõe, pois havia um deserto
a ser percorrido pela frente, até à terra prometida. Mas a grande diferença estava
na condição de que não eram mais escravos, mas povo livre pelo poder de Deus. Deveriam
considerar que o estado de penúria por que passavam agora não era o fim, e um
recomeço. Afinal saíram do Egito praticamente sem nada, mas o seu bem mais
precioso estava com eles: o próprio Deus, que prometera, no tempo certo, fazer
deles uma grande nação.
Mas poderíamos questionar se, ainda
hoje, existe realmente algum benefício em lembrar as experiências dolorosas do
nosso passado. Saibamos de uma coisa: se há tantas pessoas ingratas é porque fazem
de tudo para negar o seu passado. Assim, elas buscam esquecer suas lutas e se
tornam orgulhosas em si mesmas. Reclamam de tudo – da chuva (e da falta dela),
da comida, da igreja, dos líderes, dos próprios irmãos que Deus tão
graciosamente coloca ao seu lado... Outros reclamam do seu trabalho, enquanto
muitos gostariam de ter a oportunidade de ter um; mães reclamam dos filhos, enquanto
muitas mulheres não realizam o sonho de ser mãe. Quando esquecemos a nossa
verdadeira condição espiritual, nosso coração se torna ingrato e cultivamos uma
vida cheia de reclamações. Só a gratidão gera o reconhecimento pelas
experiências vivenciadas. Para ser grato, porém, é preciso estar disposto a
lembrar de que a nossa condição hoje poderia ser muito pior.
Como Igreja, nunca
podemos esquecer o sacrifício que o Senhor Jesus já fez por nós. Devemos lembrar
que, por um ato do amor incondicional de Deus, já não somos mais escravos do
pecado, nem do mundo. Essa liberdade, porém, não foi conquistada por nossos próprios
méritos, mas nos foi dada graciosamente. Saibamos entender que Deus utiliza
traumas do passado em nosso crescimento espiritual. Devemos aceitar que as
LEMBRANÇAS AMARGAS SÃO LEMBRANÇAS QUE ENSINAM a desenvolver em nós o dom da
gratidão, tão necessário para termos uma vida melhor.
Rev. JOÃO
FIGUEIREDO DE ARAUJO