“Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis
a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá.”
(Lucas 17.6)
A passagem bíblica em epígrafe, para
nossa reflexão, está inserida no contexto de quantas vezes devemos perdoar a um
irmão. Disse Jesus aos seus apóstolos: “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o;
se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lucas 17.3). Acrescentou ainda o
Senhor que devemos assim proceder, mesmo que a ofensa se repita por mais de uma
vez: havendo arrependimento, sempre liberar o perdão.
Os apóstolos, naquela ocasião,
entenderam ser essa ordenança, de fato, algo muito difícil de ser observado na
prática. Diante do desafio, e por certo temendo pecar contra o Senhor, pediram
a Jesus que lhes fosse aumentada a FÉ. Talvez possam ter pensado,
igualmente como nos dias de hoje, em como é difícil conviver com pessoas que às
vezes nos aborrecem, quanto mais quando esse aborrecimento se repete até “por
sete vezes ao dia” (Lucas 17.4)! Perdoar ao irmão, nessas
condições, mesmo com seu arrependimento, parece algo reservado apenas a gigantes espirituais, e não para a
maioria das pessoas comuns.
Diante do impasse conceitual sobre o
que significa ter fé, Jesus nos ensina hoje, como demonstrou aos apóstolos
naquela época, que ANTES IMPORTA SER O DEUS VERDADEIRO DO QUE O TAMANHO DA FÉ.
Quando pensamos que a intensidade da fé é que faz a diferença, estamos
automaticamente avançando por uma linha de raciocínio errada. O equívoco reside
em que, quando assim pensamos, estamos concentrando nossa atenção em nós mesmos
e não em nosso Deus, o Deus verdadeiro.
Há um conceito equivocado de que a fé
é distribuída em quantidades distintas para cada pessoa. Nesse contexto é que
são cunhadas frases do tipo “o irmão deve
fazer isso com mais fé”, ou ainda “aquela
irmã é uma pessoa de muita fé”. Já quem não testemunha grandes
manifestações de Deus na sua vida são vistas como “gente de pouca fé”. Para consertar esse
equívoco Jesus recicla a imagem da fé a partir de um grão de mostarda. A
semente do grão de mostarda é muito pequena, e Jesus queria ensinar algo sobre
o tamanho da nossa fé.
O que deve ser levado em conta não é o
tamanho da nossa fé, mas a grandeza do Deus no qual a nossa fé é depositada. Assim
pensando, na vida espiritual não há necessidade de haver fé manifesta em grande
intensidade, mas sim uma absoluta confiança no quanto é grande o Deus em quem
confiamos a nossa fé. Isso, sim, faz toda a diferença, pois o Deus verdadeiro
é poderoso, soberano e maravilhoso! Quem confia na grandeza de Deus, mais do
que no tamanho da sua fé pessoal, experimenta coisas extraordinárias na vida
cristã.
A questão, assim, não é se temos mais
ou menos fé, porque em verdade todos nós, cristãos, já temos a nossa própria fé.
Não somos incrédulos, mas pessoas crentes. O problema é que muitas vezes a nossa
fé não é colocada sobre o Deus verdadeiro, mas em deuses pessoais, incluindo nós mesmos, ou profecias de quem está ao nosso redor. Não é de se estranhar,
então, que essa fé equivocada produza maus resultados. Para sentirmos
realmente Deus trabalhar em nossas vidas é preciso orientar a nossa fé, mesmo que
a pensemos como pequena, para
realizar coisas grandiosas quando depositada no Deus verdadeiro.
Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAÚJO