“Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá?
Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que
cedo passa”.
(Oséias 6.4)
Uma das características dos tempos pós-modernos,
que vivemos hoje em dia, é a superficialidade das coisas e dos envolvimentos. O
que prevalece é a ideia do efêmero, do não durável, onde tudo pode ser
descartável. E não somente os copos plásticos, que usamos em nossas
confraternizações, mas também os relacionamentos, a fidelidade à denominação
religiosa, o fervor nos cultos de domingo e até o amor a Deus.
Não apenas os jovens são afetados por
essa tendência, como também os adultos estão submetidos a uma nova forma de
encarar a vida. Basta observar as igrejas, no domingo, quando se declara o mais
profundo amor por Jesus, reconhecendo a completa dependência do Senhor, com o
coração quebrantado; já na segunda-feira o cenário muda e a vida passa a seguir
o seu curso habitual e previsível. O fervor do domingo, na igreja, fica exatamente
lá, perante o altar. Aquele clima devocional passa muito rapidamente, durando
apenas uma noite. Resta esperar o próximo domingo para, quem sabe, demonstrar
tudo outra vez.
É evidente que não há nada de errado em
expressar a nossa devoção a Deus nos cultos do domingo. Ao contrário, devemos
fazer sempre isso, reconhecendo a graça abundante que o Senhor nos dá, fruto de
um amor incondicional para conosco. Como povo escolhido e santo, devemos
declarar publicamente a nossa fidelidade, sendo a fé um elemento fundamental na
vida de todos os discípulos de Cristo.
O problema, no entanto, é que o amor declarado
a Deus não deve ser como a névoa ao nascer do dia. Pela manhã ela é
espessa, parecendo impenetrável em alguns momentos. Sua densidade preenche
todos os espaços, e a impressão é a de que nunca vai desaparecer. No
entanto, quando o sol aponta, ela se evapora rapidamente, nada ficando
para demonstrar a intensidade que teve ao alvorecer. Assim como o sol da manhã faz
o nevoeiro desaparecer, as preocupações do dia a dia, na segunda-feira, logo
dissipam os sentimentos mais puros, as promessas e os compromissos de amor
declarados a Deus na noite de domingo.
O que mais chama a atenção é a rapidez
e a facilidade em transitar os sentimentos e as atenções de um extremo a outro.
Num primeiro momento, todos nós somos capazes de proferir votos de amor intenso
a Deus e ao próximo. Mas o difícil é permanecer fiel a esses
votos, quando o mundo conspira para dissipar as nossas melhores intenções, como
o sol faz com o nevoeiro pela manhã. É por isso que a vida espiritual tem
se tornado tão instável.
O povo de Israel no deserto, quando
enfrentava a menor das adversidades, sempre questionava, com indignação, as
intenções de Deus para com eles. Que não sejam os nossos sentimentos para com
Deus e o próximo uma relação de AMOR COMO NUVEM PASSAGEIRA, para que o Senhor
não precise nos perguntar: “Que te farei, ó Efraim? Que te
farei, ó Judá?”.
Rev. JOÃO
FIGUEIREDO DE ARAÚJO