quarta-feira, 18 de julho de 2012

INTERPRETAÇÕES EM BENEFÍCIO PRÓPRIO


“Atirava pedras contra Davi e contra todos os seus servos, ainda que todo o povo e todos os valentes estavam à direita e à esquerda do rei. Amaldiçoando-o, dizia Simei: Fora daqui, fora, homem de sangue, homem de Belial (...)”
(2 Samuel 16.6-7)

Podemos tirar conclusões equivocadas da vontade de Deus quando nosso coração está envolto em ressentimentos e amargura, ou simplesmente quando determinada situação atende ou não às nossas aspirações. Ou, ainda, quando defendemos alguém que tenha ligação pessoal conosco, como na passagem acima.

A cena descrita acontece no momento em que Absalão se levanta em rebelião contra seu pai Davi. O rei, temendo por sua vida e a de sua família, deixa Jerusalém e foge para o deserto. No seu caminho, cansado e triste, ele depara-se com Simei, um descendente de Saul, que o insulta e ataca com pedras.

Nas palavras de Simei percebemos a raiva e a amargura que o levaram a tirar conclusões equivocadas sobre a vontade do Senhor. Na medida em que atira pedras e esbraveja contra o rei, ele busca também justificar as suas agressões segundo a vontade de Deus: “(...) o Senhor te deu, agora, a paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste; o Senhor já o entregou nas mãos de teu filho Absalão; eis-te, agora, na tua desgraça, porque és homem de sangue” (2 Samuel 16.8). Dizer que Davi tinha usurpado o trono de Saul foi, no minimo, um equivoco muito grande; concluir que Deus o estava castigando por isso foi um equívoco ainda maior.

O que se destaca nesse episódio é a facilidade que temos em interpretar as ações de Deus com benefício próprio. Não vemos dificuldade em dizer, por exemplo, que “foi Deus que quis assim”, quando queremos muito que tudo seja como desejamos ou pedimos que seja. O pior é quando concluímos que as dificuldades do próximo são um castigo merecido da parte de Deus. Nesse ponto aflora um sentimento de vingança e falta de perdão, gerado pela falsa piedade da parte de muitos irmãos.

Sabemos que a interpretação daquele homem estava completamente equivocada em relação à vontade de Deus. Ainda hoje, o que causa aquele erro é o fato de normalmente estarmos sempre muito mais preocupados com nossos próprios interesses em detrimento do interesse coletivo. Por causa disso, muitas vezes nos convencemos de que determinada situação seja a vontade do Senhor, sem nos darmos conta de que podemos estar completamente equivocados em nossas conclusões. Sempre que nos movemos por interesses pessoais, corremos o risco de chegarmos a conclusões equivocadas sobre a verdadeira vontade de Deus.

Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAUJO