“Assim diz o Senhor: Maldito
o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu
coração do Senhor!”
(Jeremias
17.5)
Algumas pessoas tem utilizado
essa afirmação do profeta Jeremias para defender uma total desconfiança em relação
ao gênero humano. A exigência de contratos assinados tem aumentado significativamente,
traduzindo que a desconfiança em relação ao próximo se instaurou por inteiro em
nossa sociedade. Os relacionamentos cada vez mais se tornam superficiais, e a
comunhão é prejudicada, inclusive dentro da própria Igreja. Diante disso,
precisamos pensar se, de fato, Jeremias condena todo tipo de confiança entre as
pessoas, ou se essa interpretação é um equivoco de nossa parte, resultado de um
contexto onde muitos não são confiáveis por não terem temor a Deus.
Alguém que é totalmente
desconfiado está sendo movido pelo seu próprio medo, e não pela Graça de Deus.
Geralmente, isso pode decorrer de algum trauma vivenciado, fazendo com que
muitos assumam um perfil assim. Pode ser fruto de uma decepção amorosa, uma
amizade desgastada ou outra frustração em algum momento da vida. Mas claro está
que para esses casos deve-se antes buscar a cura da alma, pois afinal não fomos
criados para viver isoladamente, mas sim em comunidade. Mas como coabitarmos em
total confiança?
Qual será o real significado dessa
passagem bíblica? Se levada ao extremo, viveríamos em total desconfiança um
para com os outros, impedindo um relacionamento verdadeiro, que certamente não
é o que o Senhor espera de nós. A solução está em observar as palavras finais do
versículo. Ali se elucida a razão da queixa do profeta, decorrente do fato de que
as pessoas haviam renunciado à confiança no Senhor, para depositá-la nos
homens. O coração das pessoas não estava mais firmado no Senhor. O povo havia se
afastado de Deus, e esse rompimento foi o motivo que originou todo o problema.
Deixaram de confiar no Deus verdadeiro para confiar em homens. Todas as vezes
que depositamos nossa esperança na criatura, em lugar do criador, somos
malditos, como quis dizer Jeremias.
Não há dúvida de que
relacionamentos saudáveis sempre ajudam em tempos de crise e nos momentos de
necessidade. Somos confortados quando desfrutamos do convívio de boas companhias
– marido, mulher, filhos, amigos, irmãos em Cristo – e isso é um dom gracioso
de Deus. O que não podemos fazer é inverter a ordem das coisas. Jamais devemos
nos afastar de Deus, imaginando que pessoas possam nos completar plenamente.
Quando esperamos de pessoas aquilo que só Deus pode oferecer, certamente iremos
nos frustrar. Portanto, aí está o centro da questão: achar que limitadas
relações com pessoas possam nos suprir daquilo que só Deus pode nos oferecer.
Quem assim pensa e age estará inevitavelmente fadado a uma vida de decepções
nos seus relacionamentos pessoais.
Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAUJO