terça-feira, 24 de julho de 2012

INVERTENDO A ORDEM DA CONFIANÇA

“Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor!”
(Jeremias 17.5)

Algumas pessoas tem utilizado essa afirmação do profeta Jeremias para defender uma total desconfiança em relação ao gênero humano. A exigência de contratos assinados tem aumentado significativamente, traduzindo que a desconfiança em relação ao próximo se instaurou por inteiro em nossa sociedade. Os relacionamentos cada vez mais se tornam superficiais, e a comunhão é prejudicada, inclusive dentro da própria Igreja. Diante disso, precisamos pensar se, de fato, Jeremias condena todo tipo de confiança entre as pessoas, ou se essa interpretação é um equivoco de nossa parte, resultado de um contexto onde muitos não são confiáveis por não terem temor a Deus.

Alguém que é totalmente desconfiado está sendo movido pelo seu próprio medo, e não pela Graça de Deus. Geralmente, isso pode decorrer de algum trauma vivenciado, fazendo com que muitos assumam um perfil assim. Pode ser fruto de uma decepção amorosa, uma amizade desgastada ou outra frustração em algum momento da vida. Mas claro está que para esses casos deve-se antes buscar a cura da alma, pois afinal não fomos criados para viver isoladamente, mas sim em comunidade. Mas como coabitarmos em total confiança?

Qual será o real significado dessa passagem bíblica? Se levada ao extremo, viveríamos em total desconfiança um para com os outros, impedindo um relacionamento verdadeiro, que certamente não é o que o Senhor espera de nós. A solução está em observar as palavras finais do versículo. Ali se elucida a razão da queixa do profeta, decorrente do fato de que as pessoas haviam renunciado à confiança no Senhor, para depositá-la nos homens. O coração das pessoas não estava mais firmado no Senhor. O povo havia se afastado de Deus, e esse rompimento foi o motivo que originou todo o problema. Deixaram de confiar no Deus verdadeiro para confiar em homens. Todas as vezes que depositamos nossa esperança na criatura, em lugar do criador, somos malditos, como quis dizer Jeremias.

Não há dúvida de que relacionamentos saudáveis sempre ajudam em tempos de crise e nos momentos de necessidade. Somos confortados quando desfrutamos do convívio de boas companhias – marido, mulher, filhos, amigos, irmãos em Cristo – e isso é um dom gracioso de Deus. O que não podemos fazer é inverter a ordem das coisas. Jamais devemos nos afastar de Deus, imaginando que pessoas possam nos completar plenamente. Quando esperamos de pessoas aquilo que só Deus pode oferecer, certamente iremos nos frustrar. Portanto, aí está o centro da questão: achar que limitadas relações com pessoas possam nos suprir daquilo que só Deus pode nos oferecer. Quem assim pensa e age estará inevitavelmente fadado a uma vida de decepções nos seus relacionamentos pessoais.

Rev. JOÃO FIGUEIREDO DE ARAUJO